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O que é medo - 2ª parte

Posted by Magali Marcadores:


A defesa contém o germe do ataque. Desejo a segurança física; crio, por conseguinte, um governo soberano, o qual torna necessárias forças armadas, o que significa guerra, que destrói a segurança. Onde quer que haja o desejo de autoproteção, há temor. Quando percebo a falácia da exigência de segurança, não acumulo mais. Se disserdes que percebeis isso, mas que não podeis deixar de acumular, então não percebe realmente que, inerente à acumulação, há dor. Há medo no processo de acumulação, e a crença em alguma coisa faz parte do processo acumulativo. Morre meu filho, e eu creio na reencarnação, para proteger-me psicologicamente da dor, mas, o próprio processo de crer encerra também a dúvida. Exteriormente, acumulo coisas e faço vir a guerra; interiormente, acumulo crenças e produzo dor. Enquanto desejo estar em segurança, ter depósitos nos bancos, prazeres, etc., enquanto desejo tornar-me alguma coisa, fisiológica ou psicologicamente, tem de haver dor. As próprias coisas que estou fazendo para proteger-me da dor trazem-me pena e dor.
O temor começa a existir quando desejo viver segundo determinado padrão. Viver sem medo significa viver sem determinado padrão. Quando desejo certa maneira de viver, isso em si é uma fonte de temor. Meu problema é esse, desejo de viver dentro de certa forma. Não posso quebrar a forma? Só posso quebrá-la, quando percebo esta verdade: que a forma está causando temor e que este temor está tornando mais forte a forma. Se disser, que devo quebrar a forma porque desejo livrar-me do medo estou, apenas, seguindo outro padrão, que acarretará mais temor. Qualquer ação da minha parte, baseada no desejo de quebrar a forma só criará outro padrão, e, por conseguinte, temor. Como posso quebrar a forma sem causar temor, isto é, sem nenhuma ação consciente ou inconsciente de minha parte, com relação à forma? Isso significa que não devo agir, que nenhum movimento devo fazer, para quebrar a forma. Que acontece quando fico simplesmente observando a forma, sem fazer coisa alguma em relação a ela? Vejo que a própria mente é a forma, o padrão, que ela vive no padrão "habitual” que para si própria criou. Por conseguinte, a própria mente é o medo. Tudo o que a mente faz, visa fortalecer um padrão antigo ou favorecer um padrão novo. Isso significa que tudo o que a mente faz para livrar-se do temor, gera temor.  
O temor encontra vários meios de fuga. A variedade mais comum é a identificação, não é? Identificação com a pátria, a sociedade, uma ideia. Já não notastes a maneira como reagis, quando assistis a um desfile militar ou a uma procissão religiosa, ou quando a pátria está ameaçada de invasão? Vós vos identificais, então, com a pátria, com uma entidade, com uma ideologia. Em outras ocasiões vos identificais com vosso filho, vossa esposa, com determinada forma de ação ou de inação. A identificação é um processo de auto esquecimento. Enquanto estou cônscio do "eu”, sei que há dor, há luta, medo constante. Mas se posso identificar-me, ao menos temporariamente, com algo maior, algo vantajoso, a beleza, a vida, a verdade, a crença, o conhecimento, nisso há fuga do "eu”, não é verdade? Falando de "minha pátria”, esqueço-me de mim mesmo temporariamente. Se puder dizer algo a respeito de Deus, esqueço-me de mim mesmo. Se puder identificar-me com minha família, com um grupo, com determinado partido, certa ideologia, há então uma fuga temporária.

Extraído do livro de Krishnamurti


Paz e Luz