Você sabe, para descobrir o que é, você deve negar
totalmente o que não é. Através da negação do que não é, se chega ao que é.
Deve-se descobrir se o prazer é amor. O amor é desejo? O amor está associado ao
sexo, e o sexo se tornou extraordinariamente importante, não é? Você o vê em
todos os lugares; pega qualquer revista, caminha em qualquer rua,
infindavelmente vê este “amor”. Por que o sexo se tomou colossalmente
importante, como ele está associado ao que chamamos “amor”? Por quê? Você
alguma vez fez essa pergunta? O amor é pensamento? Pode o pensamento cultivar o
amor? O amor não é prazer, não é desejo, não é recordação, ainda que essas
coisas tenham seu lugar. Que é, então, o amor? É ciúme? É o amor um sentimento
de posse – minha mulher, meu esposo, minha noiva? Contém medo o amor? Não é
nenhuma dessas coisas, apaguem-nas completamente, terminem com elas, pondo-as
em seu lugar correto. Então há amor. O amor não é pensamento. Não é desejo,
prazer, não é o movimento de imagens, e enquanto você tem imagens de outrem não
há amor. E perguntamos, é possível viver uma vida sem qualquer imagem? Só assim
você entra em contato com outro.
A inteligência requer liberdade, e a liberdade
requer a cessação de todo conflito. Torna-se existente a inteligência e deixa
de existir o conflito quando o “observador” é a coisa observada, porque então
não há divisão. Então, existe amor. Hesitamos em empregar essa palavra já tão
terrivelmente “carregada”; o amor está associado ao prazer, ao sexo, ao medo,
ao ciúme, à dependência, ao desejo de posse.
Sem dúvida, o amor é estado de espírito em que o
“eu” perdeu toda a sua importância. Amar é ser amistoso. Quando amais, não
tendes inimizade e não causais inimizade. E vós causais inimizade ao
pertencerdes a religiões, nações, partidos políticos. Se possuís muitas terras,
imensas riquezas, enquanto outro pouco ou nada tem, causais inimizade, ainda
que frequenteis os templos, ou mandeis construir templos com vossas riquezas.
Não tendes afabilidade quando estais em busca de posição, poder, prestígio.
Dependemos da sensação para a continuidade do assim chamado amor, e, quando
essa satisfação é negada, procuramos encontrá-la em outrem. Sem compreender a
ansiedade, não pode haver plenitude do amor. Para compreender essa plenitude,
esse estado integral, precisamos começar a estar apercebidos do desejo como
ganância e possessividade.
O amor não é sensação. A sensação faz nascer o
pensamento, por meio das palavras e dos símbolos. As sensações e o pensamento
tomam o lugar do amor, tornam-se um substituto do amor. As sensações são
produtos da mente, como o são também os apetites sexuais. A mente gera o
apetite, a paixão, através da lembrança, e recebe dessa fonte sensações. As
sensações são agradáveis e desagradáveis, e a mente se prende às agradáveis,
tornando-se escrava delas. A mente é o fabricante dos problemas e, portanto,
não pode resolvê-los. O pensamento é fragmentário, limitado, não pode resolver
o problema do que é o amor, e não pode cultivar o amor. Quando se cria uma
abstração com o pensamento, cria-se o afastamento de “o que é”. Isto é o que se
tem feito durante toda a vida; porém, jamais se saberá, mediante a abstração, o
que é amor; nunca se conhecerá a imensa beleza, profundidade e significação do
amor.
O processo do pensamento nega sempre o amor. O
pensamento é que tem complicações emocionais, e não o amor. O pensamento é o
maior obstáculo ao amor. O pensamento cria uma divisão entre o que é e o que
deveria ser. Essa estrutura moral, criada pela mente para manter coesas as relações
sociais, não é amor. O pensamento não conduz ao amor, não pode cultivar o amor.
O próprio desejo de cultivar o amor é ação do pensamento.
Texto extraído do livro de Krishnamurti
Luz e Paz na caminhada
Matéria terá continuidade na próxima publicação
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