Resignação e anulação das vontades próprias. A existência
de uma leve curvatura na região lombar, inclinada para dentro, é considerada
normal. Quando essa curva se torna excessiva, é chamada lordose ou hiper lordose.
Dentre as causas mais comuns destacam-se as posturas inadequadas: ao sentar;
ficar em pé por muito tempo; compensação de alguma deformidade óssea ou
formação de barriga que exige mudança na postura para o equilíbrio do corpo. A
causa metafísica da lordose é o abandono das atividades prazerosas e/ou a
atuação na realidade com desprazer. A falta de habilidade para viabilizar os
meios propícios à realização do que dá prazer impede a pessoa de alcançar os seus
objetivos. Na maioria das vezes, a impossibilidade de fazer o que se tem
vontade, não se dá pela falta de condições ambientais ou financeiras, mas sim
pela incapacidade de a pessoa se libertar dos outros ou dos seus afazeres. Ela
apega-se às tarefas a ponto de só sair para descansar ou aproveitar bons
momentos, quando está com tudo pronto. Prioriza as obrigações de tal maneira,
que não se permite alguns momentos de descontração, enquanto não finalizar o
trabalho.
Encontra-se
tão aprisionada às suas incumbências, que não sobra espaço para o lazer. Não
consegue parar alguns instantes e se dedicar aos afazeres corriqueiros;
organizar suas coisas; assistir a um programa de televisão preferido; dialogar,
brincar, sorrir etc. As obrigações sufocam os seus anseios. Quando a relação
com o trabalho chega a esse ponto, prejudica a qualidade de vida. Certas
pessoas encaram os compromissos como se fossem um sacrifício. Redimem-se aos
afazeres, de tal maneira que a displicência causaria profundo desconforto.
Sentem-se melhor fazendo o que é necessário, do que curtindo o lazer. Sofreriam
mais com o não cumprimento das obrigações do que com o abandono do prazer. Os
prejuízos desse auto abandono podem surgir em longo prazo, com a manifestação da
lordose. Outro fator que interfere na livre expressão das vontades é o apego às
pessoas com quem nos relacionamos. Mesmo com toda possibilidade para realizar
nossos intentos, ficamos desolados por não ter a companhia de quem queremos
bem. Ou, ainda, por não contar com o devido apoio e motivação daqueles que nos
cercam para fazermos o que gostamos. Esse tipo de apego compromete a liberdade.
Ao mesmo tempo que a relação nesses moldes nos preenche momentaneamente, com o
passar do tempo vão surgindo as cobranças. Ficamos na expectativa de que o
outro, de alguma forma, nos apoie, incentive ou nos acompanhe naquilo que
apreciamos fazer. No entanto, o outro não se dá conta das nossas necessidades.
Quem deveria se mobilizar por aquilo que nos satisfaz, seríamos nós mesmos;
como não o fazemos, o outro, por sua vez, não se dá conta do quanto certas
atividades são importantes para nós. Além de negligenciarmos o prazer, não
assumimos a frustração de não ter feito o que tínhamos vontade. Geralmente, atribuímos
aos outros nossos insucessos, alegando falta de compreensão, companheirismo ou
incentivo, quando, na verdade, fomos nós que não conseguimos assumir o quanto
era importante, naquele momento, certas atividades. Não raro, acusamos a quem
queremos bem, como se essas pessoas fossem o empecilho para a satisfação dos
nossos desejos, porém, somos nós que não conseguimos agir por conta própria,
libertando-nos do apego. Resumindo, as frustrações e a perda da liberdade
ocorrem principalmente pela falta de disponibilidade interna. As dificuldades
existenciais e/ou a omissão dos outros não podem ser impedimento para as
satisfações pessoais
Texto retirado do livro Metafísica da Saúde
Paz e Bem