Geralmente são
pessoas que se destacavam pela eficiência e capacidade de gerenciar as
condições de vida para obter os fins desejados. Não apresentavam problemas de
comando, lideravam com grande facilidade.
Em alguns
momentos tornavam-se indesejáveis, por tomar a frente da situação e realizar
com muita competência o que dizia respeito aos outros. Isso provocava certa
frustração, sufocando as pessoas que as rodeavam, pois monopolizavam as
funções, não delegando aos outros algumas incumbências que possibilitariam
melhor integração do grupo. O fato de manterem tudo centralizado sob seu poder
fazia-as sobrecarregarem-se de funções, extrapolando os limites de atuação.
Para sanar a
problemática, poupar os outros dos desconfortos e garantir o bom andamento das
situações, assumiam exagerado domínio sobre diversas funções. Com isso não
sobrava tempo para cuidarem de si e realizarem suas próprias tarefas. O maior
prejudicado por essa postura de liderança excessiva geralmente é o próprio
indivíduo, que compromete o andamento de suas tarefas, sobrecarregando-se de
atividades.
A busca pela
eficiência e a necessidade de exercer domínio sobre as ocorrências ao redor
tornam a pessoa extremamente eficiente. Mas displicente para consigo no tocante
a sua vida pessoal, comprometendo a disponibilidade para lidar com os seus
próprios problemas. A pessoa fica tão envolvida com seus afazeres, que não se
dá conta do quanto está omissa na sua vida afetiva ou nas necessidades pessoais
e dos transtornos que esse distanciamento poderá acarretar-lhe no futuro.
A intensidade
com que se dedica ao trabalho promoveu habilidades para lidar com as tarefas,
facultando-lhe a conquista da liderança perante aqueles que a cercam. Se por um
lado sua eficiência proporcionou-lhe o poder, por outro, faltou-lhe o controle
sobre sua intimidade. A prática de um hobby nunca foi algo evidente na
vida dessa pessoa, que viveu tão empenhada em outros objetivos, que não
conseguiu espaço para cultivar o que lhe proporcionava prazer.
É comum a
doença surgir após o afastamento de alguma situação importante. Essa perda é
acompanhada de grande abalo emocional, que deixa a pessoa transtornada e sem
conseguir elaborar essa saída de cena ou perda do comando. Após um breve
período desses eventos traumatizantes, pode ocorrer a manifestação da doença.
Geralmente os
parkinsonianos foram pessoas que durante a vida contavam consigo mesmas, não
tinham ninguém para se apoiar nem alguém que representasse um apoio emocional.
Isso fez com que se tornassem exímias no que faziam, para estabelecer suas
bases de segurança nos bons resultados conquistados.
Sentiam-se
seguras quando tinham o controle das situações. Já, ao se verem na eminência de
perder a coordenação dos acontecimentos, ficavam apavoradas ante a incapacidade
de supremo domínio dos fatos. A simples hipótese de depender de alguém, de
ficar à mercê do acaso ou impossibilitada de agir causava-lhes profundo abalo
emocional. Essa condição interior moveu suas ações durante toda a vida,
tornando-as bem-sucedidas naquilo que fizeram.
Mas isso,
também, levou-as a ficar dependentes do poder e com a necessidade de controle
sobre tudo a sua volta. Por um lado, essa condição contribuiu para seu aprimoramento,
por outro gerou a necessidade de liderança e, em alguns casos, tornou-as
perturbadas pelo medo de não serem capazes de conduzir os acontecimentos.
Com as
decepções causadas pela perda do comando, situação comum que precede o
surgimento da doença, não tiveram suporte interior para ficar à mercê dos
outros ou de alguns aspectos exteriores. Temiam perder o controle das situações
existenciais, se tornando inevitável. Com o surgimento do Parkinson, depararam
com as limitações físicas impostas pela doença. E, o que mais tentaram evitar,
tornou-se uma realidade existencial e principalmente orgânica.
Os sinais
clínicos tais como instabilidade de postura corporal e falta de coordenação
motora, que dificultam desde as ações mais simples até a perda da locomoção,
nos estágios mais avançados, representam um grande contrassenso, pois, de certa
forma, foi tudo o que essas pessoas mais tentaram evitar, durante toda a sua
trajetória existencial. Agora, veem-se fadadas à total perda da identidade, da
independência e da falta de controle, não só das situações externas, como
também da postura corporal.
Durante o
período em que se mantiveram ativas, essas pessoas exercitaram a habilidade de
execução, liderança e poder. Tornaram-se exímias realizadoras. Não tiveram
tempo de observar meticulosamente as pessoas que as cercavam, tais como, os
seus familiares ou os seus liderados. As características e necessidades dos
outros passaram praticamente despercebidas. Tinham até certa dificuldade de
delegar o poder aos outros, pois como eram muito hábeis, não toleravam os
limites dos seus colaboradores.
Nunca deram
muita abertura para as pessoas participarem da sua vida. Como boas
realizadoras, não sabiam lidar com a participação e colaboração dos outros.
Sempre deram o melhor de si, mas não sabiam receber o que os outros tinham para
lhes dar.
Outra
dificuldade dessas pessoas era delegar funções ou poder aos outros.
Monopolizavam as ações, considerando qualquer ajuda praticamente
insignificante. Tinham dificuldades em admitir o potencial alheio. Não saíam da
sua posição de profundas conhecedoras, para ensinarem alguém que estava
começando a aprender.
Com o
surgimento da doença, a pessoa precisa aprender a aceitar a colaboração dos
outros. Isso possibilita desenvolver o respeito aos limites dos colaboradores.
Durante praticamente toda sua existência, ela desenvolveu a arte de realizar,
agora precisa desenvolver a arte de aceitar a participação daqueles que estão a
sua volta, até mesmo para os próprios movimentos corporais. O aprendizado de
aceitar a colaboração dos outros promove o enriquecimento da bagagem de vida. A
somatória dos recursos da eficiência e da qualidade de ser permissiva aos
outros, aprimora sua interação com o meio em que vive.
Por fim, vale
lembrar que o verdadeiro poder não é esse que foi explanado anteriormente e foi
praticado pelas pessoas que vieram somatizar a doença de Parkinson.
O real poder é
o exercido sobre si mesmo, com a qualidade de se auto programar. Ou seja,
decidir de acordo com as próprias condições internas e não induzido pelas
tendências externas. É fazer aquilo que cabe a si, sem se importar tanto com a
impressão que aquele gesto vai causar nas pessoas ao redor. É agir com
competência, tendo condições de se "bancar", mesmo que os resultados
não sejam promissores, tendo a consciência de que valeu a tentativa.
O exercício da
liderança tem algumas peculiaridades. Basicamente, existem três tipos de
líderes: autocratas, democratas e anarquistas.
A liderança
autocrática é exercida sem levar em consideração os pontos de vista alheios.
Não se consulta a equipe para tomar as decisões que implicam na atuação de
todos; simplesmente é imposto ao grupo o que deve ser realizado por eles. A
curto espaço de tempo, esse tipo de liderança promove bons resultados, a equipe
obedece e cumpre o estabelecido. Se o perfil dos liderados não for de uma
equipe qualificada, mas sim temporária contratada para desenvolver um breve
trabalho, um líder autocrata consegue extrair da equipe uma excelente produção.
Mas em se
tratando de uma equipe qualificada ou mesmo uma equipe de trabalho permanente,
esse tipo de liderança gera revolta e movimentos de boicote. Melhor dizendo, em
longo prazo, a liderança autocrata não produz bons resultados. Os resultados
obtidos pela equipe são de baixa qualidade.
A liderança
democrática é aquela em que são levantadas as opiniões dos liderados, em que se
busca praticamente um consenso do grupo, antes de se tomar qualquer decisão
pertinente ao andamento das atividades.
Um líder
democrático considera o potencial de cada integrante da equipe, promovendo o
bom desempenho do grupo. Aproveita da melhor maneira possível a habilidade de
cada um, destacando-o para certas funções que mais condizem ao perfil do
funcionário. Considera a experiência e proximidade das pessoas com as tarefas
em questão, para que, assim, possa tomar um posicionamento adequado à condição
do grupo, viabilizando os recursos humanos e materiais para obter sucesso.
Esse tipo de
liderança, a curto espaço de tempo, não é a maneira mais produtiva. No entanto,
em longo prazo, consegue extrair o melhor da equipe. Os funcionários trabalham
satisfeitos, melhorando sua qualidade de vida.
Por fim, a
liderança anárquica é aquela que se delega o poder de decisão a cada integrante
da equipe. Não são tomadas decisões a respeito da atividade de cada integrante
da equipe. Cada um procede de acordo com seu senso próprio. Os objetivos em
comum precisam ser alcançados, cabendo a todos uma atuação independente, de
maneira que venha a colaborar com as diretrizes em comum.
Esse tipo de
líder é aquele que levanta as questões entre o grupo e permite que cada
integrante participe, fazendo o que compete a si. Ele não toma decisões, delega
ao grupo essa competência. Esse tipo de liderança só se aplica a algumas
atividades, principalmente quando a equipe é extremamente especializada. Nesse
caso, a coordenação do líder é apenas averiguar o andamento dos trabalhos.
De outra
forma, a liderança anárquica representa falta de posicionamento do líder
perante o grupo. Essa conduta demonstra insegurança, promovendo o desrespeito
da equipe e o enfraquecimento do grupo.
As pessoas
afetadas pela doença de Parkinson, geralmente exerceram uma liderança autocrata.
Não souberam delegar aos outros algumas funções que não eram de sua
competência. Pode-se dizer que o que cabia aos outros, foi integralmente
assumido por elas próprias. Esse excesso de poder, além de acarretar muito
estresse no exercício da profissão, compromete a qualidade de vida,
prejudicando o desempenho familiar. Um dos maiores prejuízos existenciais foi a
perda do poder de ser si mesmas e a incapacidade de conduzir a vida de acordo
com seus próprios conteúdos interiores e afetivos.
Texto extraído do livro Metafísica da Saúde
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1 comentários:
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