O pensamento não é amor, mas o pensamento, como
prazer, aprisiona o amor e traz a dor para dentro dessa prisão. Na negação do
que não é, fica o que é. Na negação do que não é amor, surge o amor, no qual
cessa o “eu” e o “não eu.
Onde há amor não existe problema de sexo. Isso só
se torna um problema quando o amor é substituído pela sensação. Portanto, a
questão realmente é: como controlar a sensação. Se existisse a chama vital do
amor, o problema do sexo cessaria. Atualmente o sexo tomou-se um problema
devido à sensação, ao hábito e ao estímulo. A literatura, os anúncios, a
conversa, o vestir, tudo isso estimula a sensação e intensifica o conflito.
Todos nós possuímos capacidade para um amor
profundo e abrangente, porém, pelo conflito e pelas falsas relações, pela
sensação e pelo hábito, destruímos sua beleza. Não podemos manter a chama
artificialmente acesa, mas podemos despertar a inteligência, o amor, pelo
constante discernimento das múltiplas ilusões e limitações que presentemente
dominam a nossa mente-coração, todo o nosso ser.
O amor não é sentimentalidade, não é emocionalismo,
nem devoção. É um “estado de ser” lúcido, são, racional, incorrupto, do qual
procede a ação total, a única que pode dar a verdadeira solução a todos os
nossos problemas
Se ficardes vigilante, vereis o papel importante
que o pensamento representa na vida. O pensamento tem, naturalmente, seu devido
lugar, mas não está em nenhum aspecto relacionado com o amor. Que é então o
amor? O amor é um estado de ser em que não existe pensamento; a própria
definição do amor é um processo do pensamento, não é amor.
Porque, em suma, quando realmente amamos alguém,
nesse amor existe a isenção do sentimento de posse. Temos, em dadas ocasiões,
raras, aliás, esse sentimento de intensa afeição em que não existe a ânsia de
possuir, de conquistar. E isso nos reconduz ao que disse, isto é; que existirá
ânsia de possuir enquanto houver insuficiência, falta de riqueza interior. E
essa riqueza interior se encontra, não com acumulações, mas na inteligência, na
ação vigilante em presença do conflito causado pela falta de compreensão do
ambiente.
Podemos amar alguém em particular, mas não
conhecemos aquele “estado de ser” extraordinariamente vivo e lúcido, que é o
amor. A maioria de nós tem muito pouco amor no coração. Por não termos amor,
encontramos em geral um meio de aliviar-nos, seguindo uma certa via de
“auto preenchimento”, que pode ser sexual, intelectual, ou de ordem neurótica;
de maneira que nossos problemas crescem e se tornam mais e mais agudos.
Só pode haver amor quando se compreende o processo
integral da mente. O amor não é coisa da mente, e não se pode pensar no amor. O
amor só pode existir quando ausente o pensamento do “eu”, e o libertar-nos do
“eu” só se consegue pelo autoconhecimento. Vereis, então, que o amor nada tem
que ver com os sentidos, e que ele não é um meio de preenchimento. O amor é um
modo de ser e, nesse estado, o “eu”, com as suas identificações, angústias e posses,
está ausente. Não pode existir amor, enquanto as atividades do “eu”, tanto as
conscientes como as inconscientes, subsistirem. Eis por que importa compreender
o processo do “eu”, o centro do reconhecimento.
A mente que está livre do tempo, tempo que é
pensamento, que é desejo, essa mente conhece o amor. Para a maioria de nós, o
amor é sensual. Observai-o em vós mesmos. Para a maioria de nós, amor é ciúme,
uma contradição composta de ódio e amor. Não sabemos, com efeito, o que é amor.
Conhecemos a comiseração, a piedade.
Texto extraído do livro de Krishnamurti
Texto extraído do livro de Krishnamurti
Luz e Paz
Esta matéria continuará na próxima publicação
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