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Amor: Não é Emoção, Prazer, Sentimentalismo parte 3

Posted by Magali Marcadores:


O pensamento não é amor, mas o pensamento, como prazer, aprisiona o amor e traz a dor para dentro dessa prisão. Na negação do que não é, fica o que é. Na negação do que não é amor, surge o amor, no qual cessa o “eu” e o “não eu.

Onde há amor não existe problema de sexo. Isso só se torna um problema quando o amor é substituído pela sensação. Portanto, a questão realmente é: como controlar a sensação. Se existisse a chama vital do amor, o problema do sexo cessaria. Atualmente o sexo tomou-se um problema devido à sensação, ao hábito e ao estímulo. A literatura, os anúncios, a conversa, o vestir, tudo isso estimula a sensação e intensifica o conflito.

Todos nós possuímos capacidade para um amor profundo e abrangente, porém, pelo conflito e pelas falsas relações, pela sensação e pelo hábito, destruímos sua beleza. Não podemos manter a chama artificialmente acesa, mas podemos despertar a inteligência, o amor, pelo constante discernimento das múltiplas ilusões e limitações que presentemente dominam a nossa mente-coração, todo o nosso ser.

O amor não é sentimentalidade, não é emocionalismo, nem devoção. É um “estado de ser” lúcido, são, racional, incorrupto, do qual procede a ação total, a única que pode dar a verdadeira solução a todos os nossos problemas

Se ficardes vigilante, vereis o papel importante que o pensamento representa na vida. O pensamento tem, naturalmente, seu devido lugar, mas não está em nenhum aspecto relacionado com o amor. Que é então o amor? O amor é um estado de ser em que não existe pensamento; a própria definição do amor é um processo do pensamento, não é amor.

Porque, em suma, quando realmente amamos alguém, nesse amor existe a isenção do sentimento de posse. Temos, em dadas ocasiões, raras, aliás, esse sentimento de intensa afeição em que não existe a ânsia de possuir, de conquistar. E isso nos reconduz ao que disse, isto é; que existirá ânsia de possuir enquanto houver insuficiência, falta de riqueza interior. E essa riqueza interior se encontra, não com acumulações, mas na inteligência, na ação vigilante em presença do conflito causado pela falta de compreensão do ambiente.

Podemos amar alguém em particular, mas não conhecemos aquele “estado de ser” extraordinariamente vivo e lúcido, que é o amor. A maioria de nós tem muito pouco amor no coração. Por não termos amor, encontramos em geral um meio de aliviar-nos, seguindo uma certa via de “auto preenchimento”, que pode ser sexual, intelectual, ou de ordem neurótica; de maneira que nossos problemas crescem e se tornam mais e mais agudos.

Só pode haver amor quando se compreende o processo integral da mente. O amor não é coisa da mente, e não se pode pensar no amor. O amor só pode existir quando ausente o pensamento do “eu”, e o libertar-nos do “eu” só se consegue pelo autoconhecimento. Vereis, então, que o amor nada tem que ver com os sentidos, e que ele não é um meio de preenchimento. O amor é um modo de ser e, nesse estado, o “eu”, com as suas identificações, angústias e posses, está ausente. Não pode existir amor, enquanto as atividades do “eu”, tanto as conscientes como as inconscientes, subsistirem. Eis por que importa compreender o processo do “eu”, o centro do reconhecimento.

A mente que está livre do tempo, tempo que é pensamento, que é desejo, essa mente conhece o amor. Para a maioria de nós, o amor é sensual. Observai-o em vós mesmos. Para a maioria de nós, amor é ciúme, uma contradição composta de ódio e amor. Não sabemos, com efeito, o que é amor. Conhecemos a comiseração, a piedade.

Texto extraído do livro de Krishnamurti


Luz e Paz 

Esta matéria continuará na próxima publicação