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Mal de Parkinson, na visão metafísica

Posted by Magali Marcadores:



Geralmente são pessoas que se destacavam pela eficiência e capacidade de gerenciar as condições de vida para obter os fins desejados. Não apresentavam problemas de comando, lideravam com grande facilidade.
Em alguns momentos tornavam-se indesejáveis, por tomar a frente da situação e realizar com muita competência o que dizia respeito aos outros. Isso provocava certa frustração, sufocando as pessoas que as rodeavam, pois monopolizavam as funções, não delegando aos outros algumas incumbências que possibilitariam melhor integração do grupo. O fato de manterem tudo centralizado sob seu poder fazia-as sobrecarregarem-se de funções, extrapolando os limites de atuação.
Para sanar a problemática, poupar os outros dos desconfortos e garantir o bom andamento das situações, assumiam exagerado domínio sobre diversas funções. Com isso não sobrava tempo para cuidarem de si e realizarem suas próprias tarefas. O maior prejudicado por essa postura de liderança excessiva geralmente é o próprio indivíduo, que compromete o andamento de suas tarefas, sobrecarregando-se de atividades.
A busca pela eficiência e a necessidade de exercer domínio sobre as ocorrências ao redor tornam a pessoa extremamente eficiente. Mas displicente para consigo no tocante a sua vida pessoal, comprometendo a disponibilidade para lidar com os seus próprios problemas. A pessoa fica tão envolvida com seus afazeres, que não se dá conta do quanto está omissa na sua vida afetiva ou nas necessidades pessoais e dos transtornos que esse distanciamento poderá acarretar-lhe no futuro.
A intensidade com que se dedica ao trabalho promoveu habilidades para lidar com as tarefas, facultando-lhe a conquista da liderança perante aqueles que a cercam. Se por um lado sua eficiência proporcionou-lhe o poder, por outro, faltou-lhe o controle sobre sua intimidade. A prática de um hobby nunca foi algo evidente na vida dessa pessoa, que viveu tão empenhada em outros objetivos, que não conseguiu espaço para cultivar o que lhe proporcionava prazer.
É comum a doença surgir após o afastamento de alguma situação importante. Essa perda é acompanhada de grande abalo emocional, que deixa a pessoa transtornada e sem conseguir elaborar essa saída de cena ou perda do comando. Após um breve período desses eventos traumatizantes, pode ocorrer a manifestação da doença.
Geralmente os parkinsonianos foram pessoas que durante a vida contavam consigo mesmas, não tinham ninguém para se apoiar nem alguém que representasse um apoio emocional. Isso fez com que se tornassem exímias no que faziam, para estabelecer suas bases de segurança nos bons resultados conquistados.
Sentiam-se seguras quando tinham o controle das situações. Já, ao se verem na eminência de perder a coordenação dos acontecimentos, ficavam apavoradas ante a incapacidade de supremo domínio dos fatos. A simples hipótese de depender de alguém, de ficar à mercê do acaso ou impossibilitada de agir causava-lhes profundo abalo emocional. Essa condição interior moveu suas ações durante toda a vida, tornando-as bem-sucedidas naquilo que fizeram.
Mas isso, também, levou-as a ficar dependentes do poder e com a necessidade de controle sobre tudo a sua volta. Por um lado, essa condição contribuiu para seu aprimoramento, por outro gerou a necessidade de liderança e, em alguns casos, tornou-as perturbadas pelo medo de não serem capazes de conduzir os acontecimentos.
Com as decepções causadas pela perda do comando, situação comum que precede o surgimento da doença, não tiveram suporte interior para ficar à mercê dos outros ou de alguns aspectos exteriores. Temiam perder o controle das situações existenciais, se tornando inevitável. Com o surgimento do Parkinson, depararam com as limitações físicas impostas pela doença. E, o que mais tentaram evitar, tornou-se uma realidade existencial e principalmente orgânica.
Os sinais clínicos tais como instabilidade de postura corporal e falta de coordenação motora, que dificultam desde as ações mais simples até a perda da locomoção, nos estágios mais avançados, representam um grande contrassenso, pois, de certa forma, foi tudo o que essas pessoas mais tentaram evitar, durante toda a sua trajetória existencial. Agora, veem-se fadadas à total perda da identidade, da independência e da falta de controle, não só das situações externas, como também da postura corporal.
Durante o período em que se mantiveram ativas, essas pessoas exercitaram a habilidade de execução, liderança e poder. Tornaram-se exímias realizadoras. Não tiveram tempo de observar meticulosamente as pessoas que as cercavam, tais como, os seus familiares ou os seus liderados. As características e necessidades dos outros passaram praticamente despercebidas. Tinham até certa dificuldade de delegar o poder aos outros, pois como eram muito hábeis, não toleravam os limites dos seus colaboradores.
Nunca deram muita abertura para as pessoas participarem da sua vida. Como boas realizadoras, não sabiam lidar com a participação e colaboração dos outros. Sempre deram o melhor de si, mas não sabiam receber o que os outros tinham para lhes dar.
Outra dificuldade dessas pessoas era delegar funções ou poder aos outros. Monopolizavam as ações, considerando qualquer ajuda praticamente insignificante. Tinham dificuldades em admitir o potencial alheio. Não saíam da sua posição de profundas conhecedoras, para ensinarem alguém que estava começando a aprender.
Com o surgimento da doença, a pessoa precisa aprender a aceitar a colaboração dos outros. Isso possibilita desenvolver o respeito aos limites dos colaboradores. Durante praticamente toda sua existência, ela desenvolveu a arte de realizar, agora precisa desenvolver a arte de aceitar a participação daqueles que estão a sua volta, até mesmo para os próprios movimentos corporais. O aprendizado de aceitar a colaboração dos outros promove o enriquecimento da bagagem de vida. A somatória dos recursos da eficiência e da qualidade de ser permissiva aos outros, aprimora sua interação com o meio em que vive.
Por fim, vale lembrar que o verdadeiro poder não é esse que foi explanado anteriormente e foi praticado pelas pessoas que vieram somatizar a doença de Parkinson.
O real poder é o exercido sobre si mesmo, com a qualidade de se auto programar. Ou seja, decidir de acordo com as próprias condições internas e não induzido pelas tendências externas. É fazer aquilo que cabe a si, sem se importar tanto com a impressão que aquele gesto vai causar nas pessoas ao redor. É agir com competência, tendo condições de se "bancar", mesmo que os resultados não sejam promissores, tendo a consciência de que valeu a tentativa.
O exercício da liderança tem algumas peculiaridades. Basicamente, existem três tipos de líderes: autocratas, democratas e anarquistas.
A liderança autocrática é exercida sem levar em consideração os pontos de vista alheios. Não se consulta a equipe para tomar as decisões que implicam na atuação de todos; simplesmente é imposto ao grupo o que deve ser realizado por eles. A curto espaço de tempo, esse tipo de liderança promove bons resultados, a equipe obedece e cumpre o estabelecido. Se o perfil dos liderados não for de uma equipe qualificada, mas sim temporária contratada para desenvolver um breve trabalho, um líder autocrata consegue extrair da equipe uma excelente produção.
Mas em se tratando de uma equipe qualificada ou mesmo uma equipe de trabalho permanente, esse tipo de liderança gera revolta e movimentos de boicote. Melhor dizendo, em longo prazo, a liderança autocrata não produz bons resultados. Os resultados obtidos pela equipe são de baixa qualidade.
A liderança democrática é aquela em que são levantadas as opiniões dos liderados, em que se busca praticamente um consenso do grupo, antes de se tomar qualquer decisão pertinente ao andamento das atividades.
Um líder democrático considera o potencial de cada integrante da equipe, promovendo o bom desempenho do grupo. Aproveita da melhor maneira possível a habilidade de cada um, destacando-o para certas funções que mais condizem ao perfil do funcionário. Considera a experiência e proximidade das pessoas com as tarefas em questão, para que, assim, possa tomar um posicionamento adequado à condição do grupo, viabilizando os recursos humanos e materiais para obter sucesso.
Esse tipo de liderança, a curto espaço de tempo, não é a maneira mais produtiva. No entanto, em longo prazo, consegue extrair o melhor da equipe. Os funcionários trabalham satisfeitos, melhorando sua qualidade de vida.
Por fim, a liderança anárquica é aquela que se delega o poder de decisão a cada integrante da equipe. Não são tomadas decisões a respeito da atividade de cada integrante da equipe. Cada um procede de acordo com seu senso próprio. Os objetivos em comum precisam ser alcançados, cabendo a todos uma atuação independente, de maneira que venha a colaborar com as diretrizes em comum.
Esse tipo de líder é aquele que levanta as questões entre o grupo e permite que cada integrante participe, fazendo o que compete a si. Ele não toma decisões, delega ao grupo essa competência. Esse tipo de liderança só se aplica a algumas atividades, principalmente quando a equipe é extremamente especializada. Nesse caso, a coordenação do líder é apenas averiguar o andamento dos trabalhos.
De outra forma, a liderança anárquica representa falta de posicionamento do líder perante o grupo. Essa conduta demonstra insegurança, promovendo o desrespeito da equipe e o enfraquecimento do grupo.
As pessoas afetadas pela doença de Parkinson, geralmente exerceram uma liderança autocrata. Não souberam delegar aos outros algumas funções que não eram de sua competência. Pode-se dizer que o que cabia aos outros, foi integralmente assumido por elas próprias. Esse excesso de poder, além de acarretar muito estresse no exercício da profissão, compromete a qualidade de vida, prejudicando o desempenho familiar. Um dos maiores prejuízos existenciais foi a perda do poder de ser si mesmas e a incapacidade de conduzir a vida de acordo com seus próprios conteúdos interiores e afetivos.

Texto extraído do livro Metafísica da Saúde


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1 comentários:

  1. Noah Roland

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